Andando na prancha
00:28 | Author: João Paulo da Silva
Embora a História Oficial tenha documentado apenas um caso deste tipo de prática (no ano de 1829), reza a lenda que os piratas costumavam executar seus prisioneiros fazendo com que eles andassem sobre uma prancha até o encontro mortal com os tubarões. Se o método era uma forma recorrente ou não entre os corsários, pouco me importa neste momento. O que me interessa nessa história toda é a metáfora.

De tempos em tempos, o capitalismo é colocado para andar na prancha. Rebuliços econômicos, como este de agora, fazem parte de sua natureza paradoxal de produzir mais do que a sociedade pode consumir. A crise econômica é uma espécie de Frankenstein do capitalismo, responsável por agendar encontros periódicos entre o criador e a criatura. Quando isso acontece, os donos da festa vêem seus lucros diminuírem. E aí começa o pandemônio. Mas o fato dos capitalistas estarem andando na prancha não significa que, finalmente, eles vão nadar com os tubarões.

Demissões em massa, fechamento de empresas e redução de salários e direitos são algumas das formas encontradas pelo capitalismo para salvar a própria pele e retomar um novo período de lucros. É claro que o custo disso tudo é altíssimo, mas não tão alto para os magnatas. O aumento do desemprego, da fome, da miséria e da violência é sempre debitado na conta dos trabalhadores. Na história das crises do capitalismo, quem cria o problema não paga por ele. Faz os outros pagarem.

E pagar é realmente o termo que melhor se encaixa nessa tragédia toda. Desde que a turbulência econômica começou, o mundo já torrou trilhões na tentativa de salvar bancos e empresas de uma catástrofe maior. Detalhe: usando dinheiro público. Uma riqueza que não existe quando o assunto é aumentar os investimentos sociais. É incrível como esse pessoal sabe fazer mágica.

Nos últimos meses, executivos e governantes de muitos países vêm fazendo discursos efusivos, conclamando todos a se sacrificarem para tirar a economia mundial do buraco. Curioso: enquanto os bancos e as empresas estavam ganhando fortunas, ninguém chamou os trabalhadores para repartir o bolo. Agora, quando velhos fantasmas voltam a atormentar, eles aparecem com essa conversa de dividir os prejuízos.

Todos os dias o agravamento da crise faz o capitalismo andar um pouco mais sobre a prancha da História. Mas, para vê-lo realmente nadar com os tubarões, só falta mesmo alguém que dê um “empurrãozinho”.
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3 comentários:

On 06/02/2009, 11:48 , Fabiano disse...

Ótima metáfora João. \o/

Gostaria muito de ver os batalhões de operários empurrando o capitalismo para "nada com os tubarões" com as pontas das baionetas.

Deixa eu te falar um coisa.
Dá um editada nas postagens.
Obrigatoriamente tem que ao menos colocar o Marcador "Textos do João Paulo" e coloca o seu sobrenome também.
Existem já outros marcadores que você pode utilizar, como por "Crise Econômica", você pode criar outros marcadores, para isso ver regras de postagens.

 
On 06/02/2009, 14:37 , Mário Júnior disse...

Estréia do João Paulo! \o/

Quanto a "editada" na postagem, acabei de dar.

Leia isso aqui, João: http://manguewireless.blogspot.com/2009/01/recomendaes-gerais-e-adeses.html

 
On 07/02/2009, 19:39 , Anderson Santos disse...

Também gostei da metáfora e, principalmente do fato de que quando tudo está bem ninguém pensa em repassar os ganhos com os trabalhadores.