“A sustentável leveza de uma empresa”
18:14 | Author: Anderson Santos
Quantas vezes nos últimos anos nos deparamos com propagandas de empresas que pregam a responsabilidade social como alternativa a desarranjos sociais e ambientais criadas pelo sistema capitalista?

Agendas ou cadernos feitos com material reciclado; bolsas de tecido para substituírem as sacolas de plástico nos supermercados; coletores de pilha; grandes espaços para coleta seletiva de lixo no estacionamento de hipermercados...

Por aí vão as alternativas mais visíveis de atos que se enquadram no conceito de responsabilidade social. Neste texto, o foco será uma das muitas propagandas sobre isso, intitulada “A sustentável leveza de uma empresa”, produzida pela agência mpm para a Light, distribuidora de energia no Rio de Janeiro.

Algumas informações vindas do material, publicado na revista piauí de fevereiro, precisam ser ditas antes. No trecho “AS AÇÕES DA LIGHT”, há a citação de algumas instituições criadas para auxiliar e medir o desenvolvimento da responsabilidade social nas empresas: Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Global Reporting Initiative, Índice de Sustentabilidade Social Empresarial da Bovespa, Dez Princípios do Pacto Global (Nações Unidas) e Metas de Desenvolvimento do Milênio. Ufa!

Percebe-se a imensa quantidade de organismos sociais e empresariais interessados no desenvolvimento sustentável do planeta. Isso após mais de dois séculos se pensando apenas em utilizá-lo de todas as maneiras possíveis, de destruição, pelo capital.

Ninguém aqui é contra se criar formas para a “continuidade dos aspectos [...] econômicos, culturais e ambientais da sociedade humana”. Também é interessante e aceitável que se ache um “meio de fazer com que essa sociedade preencha suas necessidades no presente e, ao mesmo tempo, preserve a biodiversidade e os ecossistemas, para obter a manutenção indefinida desses ideais no futuro”.

Porém, precisamos dizer que as condições criadas até agora, através do desenvolvimento tecnológico, já possibilitam o desenvolvimento social mais que suficiente para toda a população mundial existente na Terra. Mais que o suficiente!

Uma pequena prova atual: segundo dados da Organização das Nações Unidas - essa entidade amorfa que sequer repudia ações de invasão de países - para “acabar” com a fome no continente africano necessitaria de cerca de US$ 700 milhões. E só nos Estados Unidos foram “liberados” de uma só vez cerca de US$ 700 BILHÕES para "salvar" as grandes empresas mundiais com matriz estadunidense.

O que adianta preservar a biodiversidade e os ecossistemas de algumas reservas ecológicas criadas e, ao mesmo tempo, acabar com o clima de todo o planeta através da emissão de gases poluentes por meio de suas indústrias – agora espalhadas ao longo dos países subdesenvolvidos, com menor legislação específica que combata a exploração trabalhista e a poluição ambiental?

REQUISITOS BÁSICOS
Nos quatro requisitos básicos para que um empreendimento seja sustentável, a propaganda da Light cita: “ser economicamente viável, socialmente justo, culturalmente aceito e ecologicamente correto”.

É incrível o ponto “socialmente justo” já que a maioria dos que se acham de esquerda, especialmente os que acreditam na luta parlamentar, batalham por um mundo “mais justo”. A diferença é básica, um mundo mais justo pode ser possível na sociedade atual.

Até mesmo porque continuando neste ritmo de perdas de direitos trabalhistas, num futuro próximo ainda haverá quem queira, ao menos, o que se já teve um dia. E justamente numa propaganda de empresa, que está longe de desejar um mundo justo – só vindo com uma transformação radical da sociedade – nos vemos uma frase dessas.

VIABILIDADE ECONÔMICA
O mais importante sobre responsabilidade social e desenvolvimento sustentável vem já perto do final da propaganda: “Mas para que todas essas ações sociais e ambientais possam ser realizadas, a garantia de retorno dos investimentos é um dos itens fundamentais da sociabilidade”. Alguém duvida disso?

Afinal, trata-se de uma empresa, logo, visa o lucro. Lucro este que só vem com a exploração da força de trabalho. Assim, apesar de todas essas ações para um desenvolvimento sustentável, precisaria de muitas coisas mais para compensar as perdas do trabalho. E a verdadeira forma de recompensa e de real sustentabilidade social está bem longe de vir com o atual modo de produção. E a superação deste não é o que qualquer empresa quer.

No fim, ficamos com as últimas frases da empresa que admite o “modismo” na questão, o que gerou a necessidade de muitas empresas entrarem nesse ramo:

“Gerir a empresa de forma sustentável não é apenas uma questão de modismo, mas de sobrevivência. Para a Light, é a forma correta de se conduzir os negócios”.
Raulzito e a Canção do Senhor
00:35 | Author: Jorge lucas
A primeira vez que escutei a canção Gita de autoria do Raul Seixas e do Paulo Coelho me senti leve, talvez pela forma como foi gravada com inúmeros instrumentos líricos dando a sensação de paz ou talvez pela voz doce que mais parece uma canção de amor, tempos mais tarde descobri que a música foi "elaborada" em cima de um livro sagrado para o Hinduísmo, o Bhagavad Gita.

Escrito da forma encontrada atualmente entre os séculos 5 e 1 a.C. quando a Índia era unificada politicamente indo do Himalaia ao Cabo Camorim o livro é um dos capítulos da epopéia Mahâbhâruta, que narra os anseios do príncipe Arjuna que se vê em crise quando entra para o campo de batalha e percebe que seus inimigos são seus familiares em lados opostos disputando terras, sua tradução é entendida como "canção do senhor" pois contém as palavras da divindade Krishna.

Intepretada de diversas maneiras(algumas sem a mínima noção) a música se tornou um marco na carreira do Raul, estourando no Brasil e fazendo-o voltar do seu exílio nos Estados Unidos e fazer o primeiro video-clipe colorido da história brasileira. Entre as interpretações um tanto comum irei citar algumas que facilmente podem ser excluídas com um pouco de leitura: "Quando ele fala que a letra A tem meu nome ele está se referindo ao Aleister Crowley"

Não, no canto X estância 33 encontra-se o seguinte texto:
"Sou a vogal A entre as letras; o composto copulativo entra as palavras compostas. Sou o tempo infinito, o mestre ordenador, cujas faces estão em toda parte."

"Essa música foi inspirada em um diálogo com o capeta"

Não, o livro trata somente da conversa entre Arjuna e Krishna e não de fantasias cristãs, quando sublinhei a palavra elaborada no início da postagem foi para comentar que inúmeros versos foram mantidos iguaizinhos ou quase nada modificados, como no:

Canto X estância 32:
"Sou o princípio, meio e fim..."

Canto IX estância 4:
"... todos os seres estão em mim, mas eu não estou neles."

Canto X estância 34:
"Sou a morte que tudo arrebata e o nascimento de tudo que adquire vida. Entre os atributos femininos sou a glória, a beleza, a eloquência, a memória, a inteligência..."

"Essa música é um canção de amor"

Bom, não deixa de ser.

Contendo versos que encantam e fazem refletir, o grande mestre teósofo Roviralta Borrel assim se referia ao Bhagavad Gita "um livro de cabeceira humanidade que simboliza a batalha entre dois grupos antagônicos, a eterna luta entre o bem e o mal travado na mente e nos corações dos homens"
No último mês de Janeiro aconteceu em Bélem (PA) a mais recente edição do Fórum Social Mundial. Foi impossível, ao participante mais atento, não fazer um paralelo entre a edição de 2003, em Porto Alegre, e esta. Se, no FSM Gaúcho havia um clima de celebração em torno da recente eleição de Lula à presidência do Brasil, com um tom de esperança para as lutas populares no país, em Janeiro, o que se pôde perceber foi a tentativa de esquivar-se do clima de falência que atinge o PT, tanto no Pará, quanto no Governo Federal.

Foi notável o investimento petista no envento. Além da programação oficial, frequentemente voltada para as pautas governamentais, e da dedicação da militância de bases do partido às tarefas mais puramente práticas do Fórum (no credenciamento, praticamente todos os envolvidos ostentavam a velha estrelinha 13), foi distribuído, diariamente, um jornal com todos os passos do partido no FSM. Lula e Dilma, claro, estavam na capa todos os dias.

É evidente que nada disso é surpreendente. Mas, o importante a ser discutido é o porquê desta aposta, de grande parte da "esquerda", em espaços como o Fórum Social Mundial.

Não se pode, evidentemente, desconsiderar a grandeza de uma proposta como a do FSM. Um espaço de debates livre capaz de reunir ativistas de 150 países, não é algo que acontece todos os dias. Mesmo os problemas organizacionais, como falta de informações corretas, grades de atividades conflitantes etc., são questões perfeitamente razoáveis quando se trata de um evento que reúne algo em torno de 100.000 participantes. Mas o comportamento destas 100.000 pessoas é sintomático e revela as concepções mais profundas que têm norteado o Fórum Social.

O projeto social-democrata, que vem, cada vez mais, demonstrando sua fragilidade frente à crise estrutural do capital e sua nova recaída econômica, é a tônica dos discursos e práticas da organizações que participam do FSM. A maior parte da organização construída pelos próprios participantes do evento é oferecida por ONG's que se dedicam desde o combate ao trabalho escravo na Guatemala, à venda de pornografia ecológica para o financiamento de projetos de educação ambiental na América Latina. A tônica, no fim, mesmo aquela oferecida por partidos que reinvindicam-se de esquerda, acaba por ser o combate parcial à injustiça causada pelo capitalismo. Foram poucas as reflexões efetuadas no sentido de um enfrentamento global à lógica do capital.

Isto, talvez, seja um bom ponto para iniciar a discussão da causa de todas a contradições que envolveram a realização deste Fórum Social Mundial específico. Apesar das boas intenções daqueles que participaram do encontro dispondo-se a discutir as mazelas sociais que testemunham diariamente em seus locais de origem, poucos se preocuparam em refletir acerca do fosso social em que estavam metidos durante aquela semana.

A região de Belém onde localizam-se as universidades que serviram de sede para o Fórum estão entre as mais pobres da cidade. A atitude tomada pelos Governos Federal e Estadual foi a mesma que vem sendo aplicada ultimamente. Uma verdadeira limpeza social, levada à cabo pela polícia militar paraense, junto à Força Nacional, cuidou de "prover segurança" aos participantes do Fórum. Infelizmente, para os moradores pobres de Belém, a segurança dos participantes do encontro foi sinônimo de uma covarde política de criminalização e repressão da pobreza.

Mais do que isto, esta mesma população foi obrigada a assistir de fora as discussões acerca da realidade dos miseráveis do mundo, impedida de participar dos espaços do FSM, aos quais somente os credenciados podiam chegar. De fora das universidades, como de costume, os moradores da periferia de Belém, mais uma vez, aprendiam muito mais sobre a luta de classes do que os debatedores do Fórum Social Mundial, que, para discutir melhor os problemas da desigualdade econômica, isolaram-se (ou foram isolados) do mundo real.

No entanto, como espaço para articulação dos Movimentos Sociais, o Fórum ainda foi capaz de demonstrar sua importância. Como destaque, a plenária realizada entre os setores que atuam na Conlutas, na Intersindical, mais o MTL e a Pastoral Operária Metropolitana, demonstrou a preocupação das organizações de esquerda brasileiras com a mobilização unificada dos trabalhadores para o enfrentamento à crise econômica mundial. Muita água ainda vai rolar sob as pontes deste debate, mas o positivo é que ele se torna mais concreto do quê vinha sendo até então.

Ainda assim, porém, grande parte da esquerda continua perplexa, refletindo pouco acerca de seu passado e repetindo erros que poderiam ser evitados. O mais claro deles é a escolha pela "linha de menor resistência" do capital, apegando-se em soluções parcializadas e setorializadas, descoladas de uma estrutura estratégica global para a superação do capitalismo. A fé na democracia burguesa, no direito enquanto complexo em disputa e nos meios institucionais de embate são as principais características do FSM.

Talvez os ares comecem a mudar, mas não graças ao Fórum Social Mundial. Afinal, um outro mundo é possível, mas não nos marcos do capital.As palavras encontradas em uma das paredes que ficam próximas à Universidade Federal Rural da Amazônia, e que, provavelmente foram pichadas por algum dos moradores da região, acabam por sintetizar bem o evento.

FSM: Fórum Sinceramente Medíocre.
A crise ecônomica segue, analistas burgueses dizem que ainda vai perdurar por muito tempo, analista de esquerda como Mészaros diz que essa é pior crise da humanidade, e o centrão, seja ele à esquerda ou à direita, fazendo de tudo para achar fórmulas mirabolantes para que essa crise acabe logo.

Já vimos e ouvimos de tudo... Na verdade de quase tudo como propostas para amenizar, ou acabar, com a crise. Desde uma proposta de um “novo Breton Woods”, onde no rearranjo geopolítico mundial os países emergentes teriam mais força política (já que econômica e militar não teriam condições), passando a ser o G-20 e não o G-7, o fórum de discussão privilegiado sobre os rumos da humanidade, essa proposta é vista com bons olhos pela maioria dos organizadores do Fórum Social Mundial, que ocorreu recentemente em Belém. E na verdade é algo que o Governo Lula coloca sempre em questão, sendo esse um dos pontos em que aqueles que dizem que a política internacional do gonerno é positiva se apoiam.

Outra proposta, dessa vez mais malandra do que mirabolante (visto que já foi aplicada em outros momentos da história recente do capital) é o pedido do empréstimo de parte dos salários dos operários metalúrgicos do Rio Grande do Sul, obviamente que o sindicato que é filiado à neo-pelega CUT aceitou o acordo, e ainda saúda esse mesmo acordo como algo positivo, “acordo inédito”, pois esse garantiria os empregos dos trabalhadores diante de tantas demissões! Acontece que os empregos de fato estão garantidos, até julho, e nada garante que a crise acabe até julho, na verdade a previsão, por menos pessimista que seja é de que ainda vai durar mais um bocado, ou seja, trabalhadores demitidos e com seus salários diminuído até lá.

Novamente a TV

Aqui a malandragem burguesa é ainda pior, pois atinge com a força de um napalm a consciência dos trabalhadores. A ideologia vendida pelos “nossos senhores” é tão nefastas quanto todo o desemprego já causado pela Crise Econômica, com o apoio de todos os governos (inclusive dos ditos progressistas de Lula, Chaves, Evo etc), por mais que alguns deles expressem sua indignação diante da crise, faz-me rir, o discurso falacioso desses, me parece óbvio que estejam indignados, não com o desemprego dos trabalhadores, mas agora já não podem fazer mais a farra das políticas assistencialistas que mantiveram os gigantescos índices de popularidade desses presidentes.

Numa reportagem feita com setores da classe média sobre o desemprego, um “especialista” falava com uma risada irônica no canto da boca que é mais ético os caminhos que as empresas estão tomando agora, o banco de horas, férias coletivas, redução de salários, entre outros itens éticos, estão na lista do que os trabalhadores têm que aceitar dos benevolentes e éticos capitalistas, que em épocas de crescimento sabem muito bem saber subir os seus lucros, aumentando a mão de obra, fazendo crescer a mais-valia relativa e a composição orgânica do capital, ou seja, empregando novas tecnologias, fazendo com que um menos número de trabalhadores produzam mais do que antes a fábrica produzia, assim em momentos de crise, pode facilmente reduzir drasticamente a mão de obra empregada, a fim de recuperar a queda da taxa de lucro... que nessa crise se iniciou em fins de 2007!

Necessidade de lutar

Acontece que os napalm enviados pela burguesia manda bem o recado: “não lutemos, já que os patrões estão perdendo, nós também temos que perder um pouco e assim todo mundo ajuda o mundo a se recuperar dessa crise!

Acontece é que nós, do lado de cá, temos que unificar as lutas e isso me parece que começa a acontecer, ainda que de forma embrionária, vamos ter atos nacionais no Rio de Janeiro amanhã e no dia 12 em São Paulo e Belo Horizonte. Nesses atos, os partidos, centrais sindicais(Conlutas, Intersindical etc), Movimentos Populares(MST, MTST, Pastoral Operária, entre outros) estarão se manifestando juntos, para mandar um recado para a burguesia: “Não, não iremos dividir os seus prejuízos, temos mesmo é que dividir os vossos lucros com toda a humanidade!”

Somente dessa forma sairemos do abismo em que o capitalismo colocou a humanidade, mobilizando os trabalhadores, unificando as lutas, e voltar as nossas velas e lemes rumo à revolução socialista!
A esquerda na Roda
19:43 | Author: Anderson Santos
Sem ter muito que fazer no trabalho, na segunda-feira, após ler os jornais do fim de semana, resolvi entrar no site da TV Brasil para dar uma olhada nos programas. Um dos primeiro que atentei foi o Roda Viva - que na verdade é produzido pela TV Cultura.

Na noite de segunda-feira o entrevistado seria um filósofo-psicanalista esloveno de nome complicado, Slavoj Žižek. Resolvi dar uma olhada.

Após assistir o texto de apresentação no primeiro bloco daquele programa, gravado no dia 13 de outubro do ano passado, que destacava o fato de que para ele a esquerda deveria passar a acreditar o sistema capitalista como algo insuperável, não tive muita vontade de assistir.

Pois bem, prometi a mim mesmo a ver só o primeiro bloco para ter uma noção das críticas que ele faria. Eu acredito que é importante saber quais os argumentos dos que criticam a “esquerda”, e qual a esquerda é criticada, para não ficar preso a uma bolha de vidro achando que se possui uma verdade absoluta. Caso haja algo discutível, que se contraponha com argumentos marxistas.

Entretanto, o primeiro bloco não me mostrou o que imaginaria que ele fosse: mais um dos que se desiludiu com a idade e com a luta e prefere criticar em seus escritórios os que a fazem. Nem a tal afirmação de que o capital é insubstituível foi declarada por ele, ao menos não vi.

Caso tivesse condições para rever a entrevista, o faria. Até mesmo para prestar mais atenção desde o início no que ele dizia e poder captar pontos mais críticos. Como não posso fazer isso, passo a discutir alguns pontos que o lembro ter falado e que podem gerar um debate bastante interessante.

As perguntas foram feitas por jornalistas, psicanalista, um filósofo da USP e pelo sociólogo Emir Sader. É bom explicar também que ele se considera, em algumas coisas, marxista e é estudioso de Lacan, aprendiz e sucessor de Freud.

ESQUERDA HOJE

Em algum momento, o eslovaco exemplifica com a esquerda e a direita para falar sobre a teoria da “paralaxe”, termo que vem da Física e se refere ao fato de que em duas posições diferentes, o homem vê um objeto sob diferentes formas. Assim, só quem faz essa diferenciação entre direita e esquerda seriam os próprios elementos de cada um, a fim de se contrapor ao outro grupo.


Enfim, o que importou mesmo nessa discussão foi quando ele disse: “direita e esquerda, se é que isso ainda existe”. Ah, na apresentação do programa também havia uma citação dele em que dizia que “com a esquerda que se tem hoje, não se precisa de direita”. Esse sim é o nosso primeiro ponto.

Já li artigos e reportagens sobre partidos europeus ditos socialistas que apóiam coisas estranhas, como a xenofobia ou, no caso do partido socialista francês (não sei se havia uma diferenciação nele, como PSB e PPS aqui), defendia o neoliberalismo porque assim o mundo todo, via globalização, estaria unido (!).

Aqui no Brasil, após o governo Lula, mal temos uma oposição. Afinal, com a continuação do projeto neoliberal iniciado com Collor e aumentado com FHC, não teria porque DEM e PSDB colocar tanta pressão assim.

Quanto à esquerda ocupando cargo político, algo que discordo, temos um filhote do PT, o PSOL que, em algumas partes do Brasil anda defendendo coisas estranhas ou fazendo coligações problemáticas (como a com o PV em Porto Alegre, recebendo dinheiro do Grupo Gerdau).

Além disso, também é fato que a esquerda, devido a uma série de coisas, em especial manobras por parte dos próprios capitalistas nas últimas décadas (que força à classe trabalhadora lutar mais para manter direitos do que por algo maior) fizeram com que o objetivo de uma transformação social radical vinda das classes exploradas não ficasse na pauta do dia, mesmo com uma crise tão grave como a atual.

Ah, existe o PSTU como algo mais próximo ao que imagino que possa ser um partido revolucionário. Mas, por enquanto, acredito só nessa proximidade e, por exemplos de atuação mais próximos que vi e de coisas que ouvi, tenho lá minhas dúvidas.

A própria idéia de partido é algo com que tenho que estudar mais para entender. Por hoje, posso dizer que consegui diminuir bastante o preconceito que tinha com eles (o[s] que se propõe[m] a fazer uma revolução), mas as críticas, agora mais de práxis (teoria aplicada na prática) continuam existindo.

ATUAL PROLETARIADO

Passado esse ponto, outra coisa interessante dita foi sobre como o filósofo entendia o "proletariado". Para ele, essa categoria devia ser um pouco modificada para se adequar aos dias atuais. Ele cita o exemplo de alguém que trabalha para criar programas para a Microsoft, o que esse sujeito faz não é para ele, é para que a empresa atinja o lucro, assim como o operário de Marx.


Lendo outros autores recentemente, especificamente Marcelo Braz e José Paulo Netto (Economia Política: uma introdução crítica), eles acreditam que se deva pensar mesmo sobre o sujeito revolucionário - apesar de acreditarem que continuam sendo os operários, já que são os que trabalham diretamente na transformação da natureza e é através da força de trabalho deles aplicada nos materiais de produção que surge a mais-valia.

Por citar sujeitos revolucionários, acredito que Žižek pode acreditar numa transformação radical. Apesar de dizer que acha impressionante a capacidade de flexibilização do capital para gerar novos ciclos históricos - algo que é verdade - e deixar meio que no ar a necessidade da "esquerda" de atuar nos meios democráticos liberais para criar coisas que surpreendam este próprio meio, como Allende no Chile.

VOLTAR A PENSAR

O último ponto, o que acredito ser o maior alvo de debate é ele ter tido que entende que na época de Marx tivesse que partir para uma transformação social, 11ª tese sobre Feuerbach, mas hoje se deveria voltar a pensar sobre o contexto atual.


Sinceramente acredito que a análise do contexto atual deva ser feita, até para tentar trazer os conceitos marxistas para uma realidade atual - sem os erros que muitos que vieram depois dele cometeram e os quais deixaram súditos errôneos -, mas com a necessidade de se continuar lutando diariamente (para uma práxis efetiva).

Apesar de neste momento só estar voltado para a análise teórica, penso que a transformação radical só virá com a luta dos trabalhadores.

Ficam aí as questões para possíveis comentários e debates.
Andando na prancha
00:28 | Author: João Paulo da Silva
Embora a História Oficial tenha documentado apenas um caso deste tipo de prática (no ano de 1829), reza a lenda que os piratas costumavam executar seus prisioneiros fazendo com que eles andassem sobre uma prancha até o encontro mortal com os tubarões. Se o método era uma forma recorrente ou não entre os corsários, pouco me importa neste momento. O que me interessa nessa história toda é a metáfora.

De tempos em tempos, o capitalismo é colocado para andar na prancha. Rebuliços econômicos, como este de agora, fazem parte de sua natureza paradoxal de produzir mais do que a sociedade pode consumir. A crise econômica é uma espécie de Frankenstein do capitalismo, responsável por agendar encontros periódicos entre o criador e a criatura. Quando isso acontece, os donos da festa vêem seus lucros diminuírem. E aí começa o pandemônio. Mas o fato dos capitalistas estarem andando na prancha não significa que, finalmente, eles vão nadar com os tubarões.

Demissões em massa, fechamento de empresas e redução de salários e direitos são algumas das formas encontradas pelo capitalismo para salvar a própria pele e retomar um novo período de lucros. É claro que o custo disso tudo é altíssimo, mas não tão alto para os magnatas. O aumento do desemprego, da fome, da miséria e da violência é sempre debitado na conta dos trabalhadores. Na história das crises do capitalismo, quem cria o problema não paga por ele. Faz os outros pagarem.

E pagar é realmente o termo que melhor se encaixa nessa tragédia toda. Desde que a turbulência econômica começou, o mundo já torrou trilhões na tentativa de salvar bancos e empresas de uma catástrofe maior. Detalhe: usando dinheiro público. Uma riqueza que não existe quando o assunto é aumentar os investimentos sociais. É incrível como esse pessoal sabe fazer mágica.

Nos últimos meses, executivos e governantes de muitos países vêm fazendo discursos efusivos, conclamando todos a se sacrificarem para tirar a economia mundial do buraco. Curioso: enquanto os bancos e as empresas estavam ganhando fortunas, ninguém chamou os trabalhadores para repartir o bolo. Agora, quando velhos fantasmas voltam a atormentar, eles aparecem com essa conversa de dividir os prejuízos.

Todos os dias o agravamento da crise faz o capitalismo andar um pouco mais sobre a prancha da História. Mas, para vê-lo realmente nadar com os tubarões, só falta mesmo alguém que dê um “empurrãozinho”.
Discursos para mudar o Brasil
01:02 | Author: Anderson Santos
No último domingo, dia 24, assisti pela TV Brasil o documentário Muda Brasil! (CALDEIRA, Oswaldo. 1985), que trata dos bastidores das eleições indiretas para presidente do Brasil, após vinte anos de Ditadura militar. Nesta obra, o que muito me interessou foi ver os discursos de certas figurinhas políticas, hoje, carimbadas.

Lula, atual presidente, dizendo que não apoiava nenhuma das duas candidaturas postas não por causa da ilegitimidade, amoralidade do processo, mas “porque nenhuma representava os interesses da classe trabalhadora”. O que o tempo não faz com as pessoas...

Além dele, Fernando Henrique Cardoso (PMDB) e Marco Maciel (PDS) em trincheiras diferentes naquelas eleições – e pensar que o segundo foi vice-presidente do primeiro anos depois. Além do aparecimento de figuras como Ibrahim Moraes, Leonel Brizola, Ulysses Guimarães e tantos outros que “continuaram” em Brasília.

Mas os protagonistas do filme são Antônio Carlos Magalhães e Paulo Salim Maluf. Pois é, mais até do que o fenômeno de popularidade Tancredo Neves – que me lembra Barack Obama pelas utópicas esperanças.

Logo no início aparecem as convenções do partido da ditadura, o PDS, que gastou “bilhões de cruzeiros” (imagino que milhões de reais) com secretárias, panfletos, faixas e comprando votos de partidários.

Pelo que se diz no documentário, Tancredo preferia enfrentar Paulo Maluf a André As – cujo candidato a vice era o então governador de Alagoas Divaldo Suruagy, que dez anos depois foi protagonista de um dos piores momentos da história local. O motivo era simples: Maluf já era conhecido como político corrupto e dividia opiniões no PDS.

E alguns foram os depoimentos de pessoas que tiveram propostas para ganharem panfletos em eleições futuras para que Maluf ganhasse. E ele ganhou. É incrível o quanto bom de enrolação é esse cara.

Assim que acabou a votação do partido e a sua vitória foi anunciada, começou-se a cantar o Hino Nacional, como se aquela tivesse sido uma vitória da Nação. E isso justamente das frentes que representavam a continuidade da Ditadura! Hipocrisia pura.

A divisão então criada repartiu o PDS em três. O grupo dos candidatos derrotados, cerca de 53 senadores/deputados (segundo eles), optou por se manter distante das eleições, não apoiando nenhum dos dois grupos. Porém, outro grupo optou por participar da Frente Liberal encabeçada por Tancredo Neves e que deu a José Sarney a candidatura a vice-presidência.

ACM estava nestes últimos citados e foi o responsável por uma das maiores quebras-de-braço entre raposas políticas de tal nível – capazes de fazer de TUDO por uma vitória.

Em viagem a Salvador ao lado do presidente militar João Baptista Figueiredo, que lançaria uma obra, Paulo Maluf viu seu adversário marcar uma grande festa para o mesmo dia. Além disso, tanto ele quanto Figueiredo foram bastante hostilizados no lançamento. Mas, Maluf não viu nada disso: “Muitas pessoas estavam lá para nos apoiar”!

Enquanto isso, Tancredo Neves rodava o Brasil em busca de apoio. Começando por Minas Gerais, de passagem por São Paulo, onde ganhara apoio do governador Franco Montoro e de FHC (volta da política do café-com-leite), Goiás, Amazonas, Pará...

Em Manaus um fato inusitado ocorreu. Os militares já haviam “colocado” pessoas com camisas vermelhas em comício de Tancredo em São Paulo, para interligar sua imagem ao comunismo. Além de existir setores de esquerda que os apoiavam, algumas pessoas em Manaus foram com camisa vermelha e foram hostilizadas por partidários do próprio candidato. A polícia foi chamada por eles para tirar os “comunistas” dali.

Grande demonstração de pluripartidarismo e defesa da liberdade de ideologia!

Maluf e ACM continuavam a se estranhar por meio de notas à imprensa. ACM, nos discursos que fazia com Tancredo pelo país, fazia questão de deixar claro que o país não poderia votar em corruptos, que o candidato adversário era ladrão – por mais absurdo que algo assim tenha saído dele.

Quando questionado por repórteres em seu escritório sobre isso, Maluf pediu para que falassem com o seu advogado, que entraria com um processo contra ele. Aí os repórteres diziam que ACM prometera mostrar que ele era corrupto através de provas. “Falem com meu advogado...”. ACM também iria entrar na justiça contra ele. “Falem com meu advogado...”

Em outro momento, ele claramente direciona uma entrevista, pedindo para que alguém mais próximo a ele fale porque assim a voz ficará mais forte: “Agora, fale um pouco mais alto. Outra pessoa. Não, não, tem que ser alguém mais perto, senão não fica bom”.

Em meio ao racha no PDS, que faria criar posteriormente o PFL (atual DEM), Maluf fala à imprensa que congressistas do PMDB votariam nele, só não poderia precisar os votos. Mais uma tentativa descarada de enganar a tudo e a todos.

No final, nem mais uma enxurrada de tentativas de compra de votos adiantou para ele. Tancredo Neves era eleito presidente do Brasil com a grande expectativa para fazer do seu lema Muda Brasil! uma realidade. Mal sabia ele o que aconteceria depois...