“A sustentável leveza de uma empresa”
18:14 | Author: Anderson Santos
Quantas vezes nos últimos anos nos deparamos com propagandas de empresas que pregam a responsabilidade social como alternativa a desarranjos sociais e ambientais criadas pelo sistema capitalista?

Agendas ou cadernos feitos com material reciclado; bolsas de tecido para substituírem as sacolas de plástico nos supermercados; coletores de pilha; grandes espaços para coleta seletiva de lixo no estacionamento de hipermercados...

Por aí vão as alternativas mais visíveis de atos que se enquadram no conceito de responsabilidade social. Neste texto, o foco será uma das muitas propagandas sobre isso, intitulada “A sustentável leveza de uma empresa”, produzida pela agência mpm para a Light, distribuidora de energia no Rio de Janeiro.

Algumas informações vindas do material, publicado na revista piauí de fevereiro, precisam ser ditas antes. No trecho “AS AÇÕES DA LIGHT”, há a citação de algumas instituições criadas para auxiliar e medir o desenvolvimento da responsabilidade social nas empresas: Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Global Reporting Initiative, Índice de Sustentabilidade Social Empresarial da Bovespa, Dez Princípios do Pacto Global (Nações Unidas) e Metas de Desenvolvimento do Milênio. Ufa!

Percebe-se a imensa quantidade de organismos sociais e empresariais interessados no desenvolvimento sustentável do planeta. Isso após mais de dois séculos se pensando apenas em utilizá-lo de todas as maneiras possíveis, de destruição, pelo capital.

Ninguém aqui é contra se criar formas para a “continuidade dos aspectos [...] econômicos, culturais e ambientais da sociedade humana”. Também é interessante e aceitável que se ache um “meio de fazer com que essa sociedade preencha suas necessidades no presente e, ao mesmo tempo, preserve a biodiversidade e os ecossistemas, para obter a manutenção indefinida desses ideais no futuro”.

Porém, precisamos dizer que as condições criadas até agora, através do desenvolvimento tecnológico, já possibilitam o desenvolvimento social mais que suficiente para toda a população mundial existente na Terra. Mais que o suficiente!

Uma pequena prova atual: segundo dados da Organização das Nações Unidas - essa entidade amorfa que sequer repudia ações de invasão de países - para “acabar” com a fome no continente africano necessitaria de cerca de US$ 700 milhões. E só nos Estados Unidos foram “liberados” de uma só vez cerca de US$ 700 BILHÕES para "salvar" as grandes empresas mundiais com matriz estadunidense.

O que adianta preservar a biodiversidade e os ecossistemas de algumas reservas ecológicas criadas e, ao mesmo tempo, acabar com o clima de todo o planeta através da emissão de gases poluentes por meio de suas indústrias – agora espalhadas ao longo dos países subdesenvolvidos, com menor legislação específica que combata a exploração trabalhista e a poluição ambiental?

REQUISITOS BÁSICOS
Nos quatro requisitos básicos para que um empreendimento seja sustentável, a propaganda da Light cita: “ser economicamente viável, socialmente justo, culturalmente aceito e ecologicamente correto”.

É incrível o ponto “socialmente justo” já que a maioria dos que se acham de esquerda, especialmente os que acreditam na luta parlamentar, batalham por um mundo “mais justo”. A diferença é básica, um mundo mais justo pode ser possível na sociedade atual.

Até mesmo porque continuando neste ritmo de perdas de direitos trabalhistas, num futuro próximo ainda haverá quem queira, ao menos, o que se já teve um dia. E justamente numa propaganda de empresa, que está longe de desejar um mundo justo – só vindo com uma transformação radical da sociedade – nos vemos uma frase dessas.

VIABILIDADE ECONÔMICA
O mais importante sobre responsabilidade social e desenvolvimento sustentável vem já perto do final da propaganda: “Mas para que todas essas ações sociais e ambientais possam ser realizadas, a garantia de retorno dos investimentos é um dos itens fundamentais da sociabilidade”. Alguém duvida disso?

Afinal, trata-se de uma empresa, logo, visa o lucro. Lucro este que só vem com a exploração da força de trabalho. Assim, apesar de todas essas ações para um desenvolvimento sustentável, precisaria de muitas coisas mais para compensar as perdas do trabalho. E a verdadeira forma de recompensa e de real sustentabilidade social está bem longe de vir com o atual modo de produção. E a superação deste não é o que qualquer empresa quer.

No fim, ficamos com as últimas frases da empresa que admite o “modismo” na questão, o que gerou a necessidade de muitas empresas entrarem nesse ramo:

“Gerir a empresa de forma sustentável não é apenas uma questão de modismo, mas de sobrevivência. Para a Light, é a forma correta de se conduzir os negócios”.
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2 comentários:

On 27/02/2009, 18:05 , Eli Magalhães disse...

Nada como uma bela capa "ecológica" para ajudar na distribuição da mercadoria. Toda a cantilena do consumo responsável se tornou um ótimo ramo de negócios.

Seu texto demonstra isso muito bem na altura do "retorno dos investimentos" que é "um dos intens fundamentais da sociabilidade". Esqueceram-se os publicitários da campanha que é um intem fundamental da sociabilidade CAPITALISTA... hahaah! Nada como lucrar com o trabalho alheio enquanto, "de quebra", se naturaliza a exploração do homem pelo homem.

Muito legal o texto, Anderson, parabéns!

Abraços.

 
On 28/02/2009, 14:03 , Bruno MGR disse...

Belo texto. A Light se enquadra em um grupo de empresas que querem passar a idéia da melhoria do planeta como uma forma de aumentar o próprio lucro.
Como exemplo, tem aquelas campanhas: "consuma tal quantidade de um produto e nós plantaremos uma árvore".
Alguém já conferiu se isso realmente acontece?
Abraço.