Na postagem passada, escrevi sobre o transporte público em Maceió e o seu reajuste, explanando também – em poucos pontos – os problemas que envolvem o comitê/movimento que tem se manifestado contra os aumentos tarifários nos últimos anos. Agora vou me debruçar numa crítica ao comitê deste ano, que em pouquíssimo tempo se esfacelou. E o que foi pior: sem conseguir realizar nenhum ato ou mobilização.
Os grupos políticos organizados e as entidades estudantis e sindicais que o compuseram foram essencialmente os mesmos dos últimos anos, com um ou outro acréscimo. Entretanto, sequer os tradicionais [e repetitivos] atos partindo do Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas (Cepa) ao centro da cidade conseguiram ser viabilizados. Com um partido de esquerda na prefeitura de Maceió, o que acontecia até 2004, os atos públicos eram razoavelmente aglutinadores. Com a volta da direita tradicional ao poder municipal, as manifestações se enfraqueceram e até mesmo deixaram de existir. E tal factualidade desprovida do advento de uma repressão sistematizada por parte do aparato estatal.
O que deixa apenas uma saída para análise: não foi esta uma vitória da direita construída por ela própria em meio a um enfrentamento político-ideológico, mas sim uma derrota da esquerda para si própria! A esquerda não conseguiu sequer construir um movimento e o mesmo já morreu; houve um aborto com menos de um mês de gestação.
E o desgaste das fórmulas de ação prática do movimento foi o motivo principal para esse aborto. Vai-se até o Cepa e de lá se faz alguma atividade; ir até o colégio e não conseguir sucesso num ato “de massas” deixa-nos sem saber o que fazer. Só uma possibilidade de ação permeia o taticismo do movimento estudantil, e em 2009 ela se mostrou totalmente esgotada – isso agora não é mais teoria ou impressão subjetiva isolada, tornou-se fato concreto.
Isso foi abordado no texto anterior, escrito na segunda-feira. Mas quando me referi ao fato dos “grupos políticos não conseguirem formar uma unidade de ação por mais que um curto período” imaginava que esse período fosse de um ou dois meses. Ainda grafando que o desgaste era “catalizado em altíssima velocidade”, o mesmo ter consumido o atual comitê em 23 dias mostra que o pessimismo contido em minha analise estava errado: era necessário um quantum maior de desconfiança, era necessário ser mais pessimista ainda!
Na manhã da última quarta-feira (28), quando estava marcado um ato público que sairia da Praça dos Martírios até a Câmara Municipal – e o mesmo não foi desmarcado até o seu momento! – ninguém compareceu. Para não dizer ninguém, foram ao ato três pessoas. Entre elas, estava eu.
Não existiam militantes, carros de som, bandeiras, panfletos, faixas ou cartazes. Havia apenas uma convocatória para o ato, que foi divulgada, e mais nada. Um ônus político que tem de ser avaliado, pois se uma brincadeira de mau gosto dessas – convocar atos fantasmas – cai na moda, como vai ficar a credibilidade do movimento?
Falava-se muito em uma possível cisão do comitê antes de seu final, operacionalizada pelo Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), o qual propunha ações mais ousadas/radicalizadas, porém sem uma base social condizente para o protagonismo de tais atividades. Em suma: propostas sem viabilidade política satisfatória, que apenas gerariam desgastes e má-propaganda do movimento perante a sociedade.
Mas é o MEPR que menos merece críticas ao final do comitê, pois apesar de todas as inadequações do mesmo à dinâmica coletiva (atuar em unidade com os atores políticos envolvidos), este movimento não poderá ser acusado de abandono desta luta no momento atual. Eles organizaram, junto com o Movimento Punk Alagoano (MPAL) e a União da Juventude Comunista (UJC), um ato em substituição ao que não ocorreu, saindo em passeata pelas ruas do centro com cerca de 50 estudantes.
Um número irrisório e um itinerário pequeno: da Praça Sinimbu até a Praça Deodoro, passando pelo Palácio do Governo e pela Prefeitura Municipal. De fato, essa passeata, que teve de ser protegida por policiais para acontecer, foi a única que houve em protesto ao aumento de 11,11% na tarifa dos ônibus maceioenses. E se ela serviu para alguma coisa, foi para mostrar ao MEPR – que tinha a intenção de “radicalizar” o protesto com o apedrejamento de um ônibus vazio – o quão difícil é viabilizar suas próprias propostas sem arcar com um ônus político e material estratosférico. Por perceberem tal fato a radicalização ficou só no discurso.
Cabe fazer uma crítica e um questionamento aos demais construtores do comitê, que sequer apareceram na quarta-feira. Por parte do Partido Comunista Revolucionário (PCR), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) fica a clara impressão que – prevendo a pequenez do segundo ato, em decorrência do insucesso do primeiro – nenhuma das três forças políticas quis se fazer presente pelo fato de que não seria possível nenhuma autoconstrução a partir das manifestações do comitê.
E sem uma boa propagandeação de suas bandeiras, ideologias e parlamentares para outros, pra que lutar? Foi esse o raciocínio pobre e mecanicista que os três partidos adotaram. O PSOL tinha a intenção escancarada de alçar à níveis publicitários mais elevados o nome do vereador Ricardo Barbosa. PCR e PSTU, que buscam dentro da juventude novos militantes, abdicaram da luta por não ver esses novos quadros dentro de um movimento reduzido. Assim, no maior dos cinismos, ninguém de nenhum desses três partidos compareceu num ato agendado por eles próprios. E é impossível sustentar a tese – caso se queira usar dessa desculpa – de que todas as pessoas, de todos estes partidos, estavam inviabilizadas de comparecer ao ato por motivo de força maior. Se estavam, então por qual motivo enviaram convocatórias para listas de discussão de domínio público?
Construir-se enquanto força política ou partido em meio a um movimento é legítimo. Não condeno tal prática. Mas colocar a necessidade de autoconstrução acima da própria luta – como foi feito por PCR, PSOL e PSTU – é uma inversão de valores imperdoável.
Um terceiro grupo também merece citação: o Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares (CAZP). Presente em todos os comitês anteriormente existentes desde que fora fundado, em 2002, o CAZP esteve ausente da reunião de fundação do atual comitê, mas compareceu no ato do dia 14, em frente ao Cepa. O motivo da ausência do CAZP no ato do dia 28 não foi a “inversão de valores” imputada aos partidos políticos citados no parágrafo anterior, já que dentro deste Coletivo existe um purismo que os inibe a seguir tal prática: o que de fato é muito bom e merece ser elogiado, nesta situação. Mas esse mesmo purismo os levou ao sectarismo de avaliar o comitê como seguidor de uma política em equívoco e abandoná-lo sem nenhuma explicação, sem nenhuma “carta de despedida” que fundamentasse as críticas que o CAZP possui, o que dá a entender que nem eles mesmos sabem o que criticar, apenas não queriam participar de um espaço onde haja partido político envolvido.
E que fique claro: o sectarismo não foi a avaliação que fizeram do comitê, provavelmente muito próxima da minha, mas sim o abandono do mesmo.
Tão ruim quanto o sectarismo é a partidofobia do CAZP, que já havia sido denotada em outros momentos, como por exemplo quando se desligou do grupo Além do Mito tomando como ponto de partida para a “dissidência” uma polêmica entre formar ou não uma chapa pró-DCE-Ufal em conjunto com o PSTU. Partidos políticos são organizações legítimas, ferramentas que – se bem utilizadas – podem vir a ser úteis para a classe trabalhadora. Por qual motivo ser contra a organização partidária? Por defender o voto nulo em eleições? Resposta insuficiente do anarquismo organizado para a questão!
O CAZP não sabe responder as interrogações que surgem em sua frente, prefere se isolar em um cubo de cristal e fingir ser “a mais pura das virgens”, inviolável, sempre coerente com seus princípios. Talvez por isso continue tão insignificante como organização política: não dialoga com ninguém, não constrói nada e não tem fundamentos para suas atitudes sectárias.
O sumiço desses atores do último ato reforça um ponto do texto anterior, quando falei que o movimento estava “mais preocupado com egos do que com a luta em si”. Alguns com necessidades de autoconstrução, outro com necessidade de sentir-se como um paladino comunista.
De fato, onde está a saída? O que fazer?
A resposta para como enfrentar os aumentos de passagem de ônibus; lutar pelo passe-livre estudantil e para desempregados; conseguir melhorias e aumento da frota em circulação; viabilizar terminais de integração e formas alternativas de transporte; ampliar a meia-passagem para toda a população em finais de semanas e feriados; dentre outras reivindicações é impossível de se buscar no atual quadro, a menos que se queira dizer que nada disso é possível em Maceió (o que seria um falseamento do real).
Essa resposta se trata do produto de duas equações: 1) como o poder municipal vai manter a atual política de aumento tarifário e manutenção de um serviço precarizado que gera insatisfações dos usuários; e 2) como a oposição (de esquerda, já que a de centro e centro-esquerda seguem plataformas muito voláteis) vai se organizar para enfrentar o poder municipal, estando nele quem estiver, e trazer para o seu lado o público que utiliza o transporte coletivo maceioense e está em desgosto com a qualidade e o valor do mesmo.
Avaliando a perspectiva do trabalho, que é o lado do qual me coloco, observemos simulações para a segunda equação.
A única saída para uma reconstrução da luta contra o poder municipal e os empresários do setor é o reordenamento da esquerda em uma frente permanente de luta pelo transporte público acessível e de qualidade. Esta frente deve congregar dentro de si movimentos estudantis, sindicais e sociais, de modo que todos lutem por um objetivo único e indivisível, sem colocar em evidência prioritária no debate os próprios egos ou as preocupações entre quem veste a camisa mais ou menos vermelha.
A luta por um transporte público de qualidade e por um baixo preço se coloca como uma reivindicação meramente reformista, dentro do âmbito e lógica do capital, inexistindo – portanto – a necessidade de maiores atritos ideológicos que venham a destruir tantas vezes a organicidade do comitê. É uma questão de maturidade.
Uma frente nesses moldes deveria organizar-se desde já, mantendo reuniões periódicas; promovendo debates em bairros populares; lançando materiais de propaganda e agitação; formulando reivindicações e propostas para a viabilização das mesmas etc. Só assim, começando o movimento do início – e não de seu auge! – é que podemos ser consequentes para, num momento de novo reajuste, estarmos aptos a atuar contra ele, com uma base informada e mobilizada para as manifestações, deixando de lado o espontaneísmo do qual vem se alimentando o movimento até então.
As primeiras reuniões dessa frente/comitê, caso ela nasça, certamente serão esvaziadas e diminutas, devido a hecatombe que o último comitê deixou no movimento. Somente com o tempo e o firmamento de uma construção prática coletiva, a qual dê garantias de que o espaço estará aberto a todos os que quiserem lutar, é que tal iniciativa pode começar a dar seus primeiros frutos. Não creio em outra solução. Apenas o lançamento dessa semente pode evitar que os fiascos dos últimos anos se repitam em 2010, 2011, 2012...
É possível que mesmo mobilizado a partir de agora este novo modelo de comitê não consiga êxito e não barre o próximo aumento, mas indubitavelmente que ele seria muito mais forte que qualquer um dos últimos sete anos.
Resta uma coisa a saber: qual organização terá a coragem e a responsabilidade de redigir uma convocatória para essa frente permanente após os últimos acontecimentos?
Post-Scriptum: No segundo parágrafo do texto existe uma generalização que carece de esclarecimento. Quando falo que os protestos contra os aumentos foram maiores com um partido de esquerda que com a direita no poder municipal – tendo a esquerda reajustado a tarifa em R$0,90 num período de 114 meses e o atual Prefeito elevado a mesma em R$0,75 em 49 meses – não estou, contudo, querendo resumir a potencialidade das manifestações e ações do movimento perante as tendências políticas de quem está na Prefeitura Municipal. Isso seria uma forma de delimitar toda a centralidade do movimento na esfera política, visão a qual não defendo.
Estou querendo, somente e sem maiores pretensões, exemplificar o ativismo do movimento local nestas duas formas de governo, como forma de contraposição ao que se vê em âmbito nacional com o Governo Lula (imaginando que os leitores do blog teriam tal pré-requisito numa leitura implícita), quando se deu exatamente o inverso – basta ver a reorganização [e a necessidade da mesma!] dos movimentos estudantil e sindical, em curso desde 2004.
Para explicar essa questão decentemente, contudo, seria necessário um outro texto, que frisa-se uma análise de conjuntura contemporânea, do neoliberalismo chegando ao Brasil no Governo Collor até o ano de 2005, quando o escândalo do Mensalão escancara as contradições (que já eram conhecidas nos meios acadêmicos) do Partido dos Trabalhadores.
Os grupos políticos organizados e as entidades estudantis e sindicais que o compuseram foram essencialmente os mesmos dos últimos anos, com um ou outro acréscimo. Entretanto, sequer os tradicionais [e repetitivos] atos partindo do Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas (Cepa) ao centro da cidade conseguiram ser viabilizados. Com um partido de esquerda na prefeitura de Maceió, o que acontecia até 2004, os atos públicos eram razoavelmente aglutinadores. Com a volta da direita tradicional ao poder municipal, as manifestações se enfraqueceram e até mesmo deixaram de existir. E tal factualidade desprovida do advento de uma repressão sistematizada por parte do aparato estatal.
O que deixa apenas uma saída para análise: não foi esta uma vitória da direita construída por ela própria em meio a um enfrentamento político-ideológico, mas sim uma derrota da esquerda para si própria! A esquerda não conseguiu sequer construir um movimento e o mesmo já morreu; houve um aborto com menos de um mês de gestação.
E o desgaste das fórmulas de ação prática do movimento foi o motivo principal para esse aborto. Vai-se até o Cepa e de lá se faz alguma atividade; ir até o colégio e não conseguir sucesso num ato “de massas” deixa-nos sem saber o que fazer. Só uma possibilidade de ação permeia o taticismo do movimento estudantil, e em 2009 ela se mostrou totalmente esgotada – isso agora não é mais teoria ou impressão subjetiva isolada, tornou-se fato concreto.
Isso foi abordado no texto anterior, escrito na segunda-feira. Mas quando me referi ao fato dos “grupos políticos não conseguirem formar uma unidade de ação por mais que um curto período” imaginava que esse período fosse de um ou dois meses. Ainda grafando que o desgaste era “catalizado em altíssima velocidade”, o mesmo ter consumido o atual comitê em 23 dias mostra que o pessimismo contido em minha analise estava errado: era necessário um quantum maior de desconfiança, era necessário ser mais pessimista ainda!
Na manhã da última quarta-feira (28), quando estava marcado um ato público que sairia da Praça dos Martírios até a Câmara Municipal – e o mesmo não foi desmarcado até o seu momento! – ninguém compareceu. Para não dizer ninguém, foram ao ato três pessoas. Entre elas, estava eu.
Não existiam militantes, carros de som, bandeiras, panfletos, faixas ou cartazes. Havia apenas uma convocatória para o ato, que foi divulgada, e mais nada. Um ônus político que tem de ser avaliado, pois se uma brincadeira de mau gosto dessas – convocar atos fantasmas – cai na moda, como vai ficar a credibilidade do movimento?
Falava-se muito em uma possível cisão do comitê antes de seu final, operacionalizada pelo Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), o qual propunha ações mais ousadas/radicalizadas, porém sem uma base social condizente para o protagonismo de tais atividades. Em suma: propostas sem viabilidade política satisfatória, que apenas gerariam desgastes e má-propaganda do movimento perante a sociedade.
Mas é o MEPR que menos merece críticas ao final do comitê, pois apesar de todas as inadequações do mesmo à dinâmica coletiva (atuar em unidade com os atores políticos envolvidos), este movimento não poderá ser acusado de abandono desta luta no momento atual. Eles organizaram, junto com o Movimento Punk Alagoano (MPAL) e a União da Juventude Comunista (UJC), um ato em substituição ao que não ocorreu, saindo em passeata pelas ruas do centro com cerca de 50 estudantes.
Um número irrisório e um itinerário pequeno: da Praça Sinimbu até a Praça Deodoro, passando pelo Palácio do Governo e pela Prefeitura Municipal. De fato, essa passeata, que teve de ser protegida por policiais para acontecer, foi a única que houve em protesto ao aumento de 11,11% na tarifa dos ônibus maceioenses. E se ela serviu para alguma coisa, foi para mostrar ao MEPR – que tinha a intenção de “radicalizar” o protesto com o apedrejamento de um ônibus vazio – o quão difícil é viabilizar suas próprias propostas sem arcar com um ônus político e material estratosférico. Por perceberem tal fato a radicalização ficou só no discurso.
Cabe fazer uma crítica e um questionamento aos demais construtores do comitê, que sequer apareceram na quarta-feira. Por parte do Partido Comunista Revolucionário (PCR), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) fica a clara impressão que – prevendo a pequenez do segundo ato, em decorrência do insucesso do primeiro – nenhuma das três forças políticas quis se fazer presente pelo fato de que não seria possível nenhuma autoconstrução a partir das manifestações do comitê.
E sem uma boa propagandeação de suas bandeiras, ideologias e parlamentares para outros, pra que lutar? Foi esse o raciocínio pobre e mecanicista que os três partidos adotaram. O PSOL tinha a intenção escancarada de alçar à níveis publicitários mais elevados o nome do vereador Ricardo Barbosa. PCR e PSTU, que buscam dentro da juventude novos militantes, abdicaram da luta por não ver esses novos quadros dentro de um movimento reduzido. Assim, no maior dos cinismos, ninguém de nenhum desses três partidos compareceu num ato agendado por eles próprios. E é impossível sustentar a tese – caso se queira usar dessa desculpa – de que todas as pessoas, de todos estes partidos, estavam inviabilizadas de comparecer ao ato por motivo de força maior. Se estavam, então por qual motivo enviaram convocatórias para listas de discussão de domínio público?
Construir-se enquanto força política ou partido em meio a um movimento é legítimo. Não condeno tal prática. Mas colocar a necessidade de autoconstrução acima da própria luta – como foi feito por PCR, PSOL e PSTU – é uma inversão de valores imperdoável.
Um terceiro grupo também merece citação: o Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares (CAZP). Presente em todos os comitês anteriormente existentes desde que fora fundado, em 2002, o CAZP esteve ausente da reunião de fundação do atual comitê, mas compareceu no ato do dia 14, em frente ao Cepa. O motivo da ausência do CAZP no ato do dia 28 não foi a “inversão de valores” imputada aos partidos políticos citados no parágrafo anterior, já que dentro deste Coletivo existe um purismo que os inibe a seguir tal prática: o que de fato é muito bom e merece ser elogiado, nesta situação. Mas esse mesmo purismo os levou ao sectarismo de avaliar o comitê como seguidor de uma política em equívoco e abandoná-lo sem nenhuma explicação, sem nenhuma “carta de despedida” que fundamentasse as críticas que o CAZP possui, o que dá a entender que nem eles mesmos sabem o que criticar, apenas não queriam participar de um espaço onde haja partido político envolvido.
E que fique claro: o sectarismo não foi a avaliação que fizeram do comitê, provavelmente muito próxima da minha, mas sim o abandono do mesmo.
Tão ruim quanto o sectarismo é a partidofobia do CAZP, que já havia sido denotada em outros momentos, como por exemplo quando se desligou do grupo Além do Mito tomando como ponto de partida para a “dissidência” uma polêmica entre formar ou não uma chapa pró-DCE-Ufal em conjunto com o PSTU. Partidos políticos são organizações legítimas, ferramentas que – se bem utilizadas – podem vir a ser úteis para a classe trabalhadora. Por qual motivo ser contra a organização partidária? Por defender o voto nulo em eleições? Resposta insuficiente do anarquismo organizado para a questão!
O CAZP não sabe responder as interrogações que surgem em sua frente, prefere se isolar em um cubo de cristal e fingir ser “a mais pura das virgens”, inviolável, sempre coerente com seus princípios. Talvez por isso continue tão insignificante como organização política: não dialoga com ninguém, não constrói nada e não tem fundamentos para suas atitudes sectárias.
O sumiço desses atores do último ato reforça um ponto do texto anterior, quando falei que o movimento estava “mais preocupado com egos do que com a luta em si”. Alguns com necessidades de autoconstrução, outro com necessidade de sentir-se como um paladino comunista.
De fato, onde está a saída? O que fazer?
A resposta para como enfrentar os aumentos de passagem de ônibus; lutar pelo passe-livre estudantil e para desempregados; conseguir melhorias e aumento da frota em circulação; viabilizar terminais de integração e formas alternativas de transporte; ampliar a meia-passagem para toda a população em finais de semanas e feriados; dentre outras reivindicações é impossível de se buscar no atual quadro, a menos que se queira dizer que nada disso é possível em Maceió (o que seria um falseamento do real).
Essa resposta se trata do produto de duas equações: 1) como o poder municipal vai manter a atual política de aumento tarifário e manutenção de um serviço precarizado que gera insatisfações dos usuários; e 2) como a oposição (de esquerda, já que a de centro e centro-esquerda seguem plataformas muito voláteis) vai se organizar para enfrentar o poder municipal, estando nele quem estiver, e trazer para o seu lado o público que utiliza o transporte coletivo maceioense e está em desgosto com a qualidade e o valor do mesmo.
Avaliando a perspectiva do trabalho, que é o lado do qual me coloco, observemos simulações para a segunda equação.
A única saída para uma reconstrução da luta contra o poder municipal e os empresários do setor é o reordenamento da esquerda em uma frente permanente de luta pelo transporte público acessível e de qualidade. Esta frente deve congregar dentro de si movimentos estudantis, sindicais e sociais, de modo que todos lutem por um objetivo único e indivisível, sem colocar em evidência prioritária no debate os próprios egos ou as preocupações entre quem veste a camisa mais ou menos vermelha.
A luta por um transporte público de qualidade e por um baixo preço se coloca como uma reivindicação meramente reformista, dentro do âmbito e lógica do capital, inexistindo – portanto – a necessidade de maiores atritos ideológicos que venham a destruir tantas vezes a organicidade do comitê. É uma questão de maturidade.
Uma frente nesses moldes deveria organizar-se desde já, mantendo reuniões periódicas; promovendo debates em bairros populares; lançando materiais de propaganda e agitação; formulando reivindicações e propostas para a viabilização das mesmas etc. Só assim, começando o movimento do início – e não de seu auge! – é que podemos ser consequentes para, num momento de novo reajuste, estarmos aptos a atuar contra ele, com uma base informada e mobilizada para as manifestações, deixando de lado o espontaneísmo do qual vem se alimentando o movimento até então.
As primeiras reuniões dessa frente/comitê, caso ela nasça, certamente serão esvaziadas e diminutas, devido a hecatombe que o último comitê deixou no movimento. Somente com o tempo e o firmamento de uma construção prática coletiva, a qual dê garantias de que o espaço estará aberto a todos os que quiserem lutar, é que tal iniciativa pode começar a dar seus primeiros frutos. Não creio em outra solução. Apenas o lançamento dessa semente pode evitar que os fiascos dos últimos anos se repitam em 2010, 2011, 2012...
É possível que mesmo mobilizado a partir de agora este novo modelo de comitê não consiga êxito e não barre o próximo aumento, mas indubitavelmente que ele seria muito mais forte que qualquer um dos últimos sete anos.
Resta uma coisa a saber: qual organização terá a coragem e a responsabilidade de redigir uma convocatória para essa frente permanente após os últimos acontecimentos?
Post-Scriptum: No segundo parágrafo do texto existe uma generalização que carece de esclarecimento. Quando falo que os protestos contra os aumentos foram maiores com um partido de esquerda que com a direita no poder municipal – tendo a esquerda reajustado a tarifa em R$0,90 num período de 114 meses e o atual Prefeito elevado a mesma em R$0,75 em 49 meses – não estou, contudo, querendo resumir a potencialidade das manifestações e ações do movimento perante as tendências políticas de quem está na Prefeitura Municipal. Isso seria uma forma de delimitar toda a centralidade do movimento na esfera política, visão a qual não defendo.
Estou querendo, somente e sem maiores pretensões, exemplificar o ativismo do movimento local nestas duas formas de governo, como forma de contraposição ao que se vê em âmbito nacional com o Governo Lula (imaginando que os leitores do blog teriam tal pré-requisito numa leitura implícita), quando se deu exatamente o inverso – basta ver a reorganização [e a necessidade da mesma!] dos movimentos estudantil e sindical, em curso desde 2004.
Para explicar essa questão decentemente, contudo, seria necessário um outro texto, que frisa-se uma análise de conjuntura contemporânea, do neoliberalismo chegando ao Brasil no Governo Collor até o ano de 2005, quando o escândalo do Mensalão escancara as contradições (que já eram conhecidas nos meios acadêmicos) do Partido dos Trabalhadores.